Num tempo que já é passado e num lugar que não é aqui, “As Carmelitas de Escarpin” trabalhavam juntas e partilhavam o que acontecia em suas vidas. No que se referia ao trabalho, discutiam sobre os conhecimentos filosóficos, psicológicos, sociológicos e não lógicos envolvidos em suas tarefas, sempre com o rigor e a responsabilidade, fruto de árduas leituras e interpretações. Em se tratando de mulheres, as discussões de trabalho geralmente eram entremeadas de temas familiares, amorosos, de receitas, lugares visitados, chegando a política, valores, visões de mundo...

Tentando afastar-se dos melindres e rivalidades, eram vistas por alguns como um grupo isolado, “ensimesmado”. Estavam, no entanto, sempre disponíveis para falar de seus pensamentos e saberes mas sem descer do salto (leia-se conhecimento). Por isto, um crítico e saudoso amigo, as deu o apelido, que hoje faz com que, apesar da distância, queiram continuar a falar e tricotar como “As Carmelitas de Escarpin” .

Como em toda irmandade, cada uma adotou um nome de Carmelita: Irmã Miranda, Irmã Teodora, Irmã Clotilde, Irmã Jurema, Irmã Adelaide e Irmã Aurora. Entretanto, elas não querem ser desrespeitosas com nenhuma religião, crença ou opinião, afinal irmandade significa também, solidariedade, pensar e refletir coletivamente. Isso é só um jeito de deixar a brincadeira mais divertida e de reafirmar os votos de amizade e união.

A irmandade acabou por originar nossa confraria, com encontros mensais de boa comida, bons vinhos e muita conversa, possibilitando que mais amigos se unam ao grupo.

“Juramento da Carmelita”

Eu prometo escrever textos críticos e inteligentes, sobre os mais diversos assuntos, com respeito as opiniões das irmãs e as crenças, opiniões e opções dos possíveis leitores.

Evitarei usar palavras “chulas”, para não descer do salto, mesmo que a vontade de xingar seja grande.

Não tratarei de assuntos pessoais de forma direta e não usarei nomes conhecidos, sendo criativa para me fazer entender.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Liderança

“O mero fato de alguém se importar com você costuma ser frequentemente recompensado  com a lealdade.”
Champy (2003) citado por Robbins e colaboradores(2010) em Comportamento Organizacional, Teoria e Prática no Contexto Brasileiro
É incrível como podemos nos surpreender e encontrar coisas interessantes, ou prazeres inesperados em lugares onde não poderíamos supor.  É como se reconhecer em algo que não se conhecia bem, perceber que é possível dialogar numa língua que julgávamos completamente diferente da nossa ou aprender uma coisa nova, passar a gostar de algo de que não gostávamos.  Por outro lado, é com pessimismo que muitas vezes é preciso reforçar a idéia de que algumas áreas de conhecimento e algumas pessoas são como pântanos, em que nada pode crescer e frutificar.
O otimismo e uma alegria estranha cresceram em mim por estes dias, quando estava preparando uma aula sobre um assunto que considerava enfadonho, quando me deparei com a frase que citei no início do texto.  Ela me disse algumas coisas, confirmando convicções incompletas de forma que um tema pobre ficou rico, trazendo uma importância de se ensinar os jovens sobre liderança. 
Entendo que é essencial, tanto para o reconhecimento da autoridade de alguém, como nas relações humanas de forma geral, acreditar que o outro se importa.  Mesmo quando as divergências são grandes, as demonstrações de que os ouvidos escutam, de que as opiniões são valorizadas, de que há gratidão, ou até afeto ou amizade, estes elementos geralmente nos tornam leais ao compromisso firmado, ao trabalho que deve ser realizado, sendo possível conciliar ou ceder.
Atualmente vejo os “líderes” de duas grandes formas: uns muito orientados para tarefas, resultados a curto prazo, sem afetividade envolvida no que está sendo construído, já que o tipo de produto ou trabalho importa menos do que o ganho financeiro envolvido.  Parece haver, contudo, uma convicção real de que está se fazendo o melhor, mesmo que isto se traduza unicamente na língua que cada vez mais se torna universal: números.  Outros líderes, herdeiros do paternalismo de outros tempos, dizem ter uma abertura ao diálogo, mas nunca mudam de opinião.  Fazem um grande ‘mise en scène’, promovendo discussões infindáveis sobre fortalezas e fracassos, usando quadradinhos, setinhas,  termos em inglês, buscando ilustrações ou explicações sobre a falta de vínculo das pessoas com o trabalho. 
Mais fácil seria estar junto, no cotidiano, observar, perguntar, pensar, lá na hora, no lugar.  Isto não parece ser possível aos que não cumprem promessas, aos que ocultam seus erros e culpam os outros, aos que tem convicção absoluta de que sabem o que é o certo. “
Ser um líder ‘orientado para pessoas’, como diz a teoria, não é fechar os olhos para os erros ou descuidar dos objetivos e dos resultados, mas é pensá-los como algo que se relaciona ao trabalho, que gera lucros e também vidas vividas.  E para viver e produzir, o ideal é fazer isto bem, estar feliz. 
No fundo, liderança é exemplo.   
Dei minhas aulas de Liderança da melhor forma que pude.  Preparei questões de prova e corrigi com cuidado, escrevendo cada comentário com caneta vermelha.  Corrigindo me dei conta que usava a caneta que ganhei da querida Irmã Miranda, que nos conduziu por tanto tempo, de forma tão firme e delicada, inimitável.    Grandes pessoas são como ‘sois’ e nos fazem melhores. 
Irmã Theodora- 18/12/2011

sábado, 26 de novembro de 2011

Delicia de Abacaxi

Ontem tivemos o nosso primeiro encontro da confraria.
Foi um momento super descontraído, onde colocamos o papo em dia e aproveitamos para tirar nosso "Amigo Oculto" motivo para um novo encontro.
Irmã Clotilde caprichou no jantar, preparou Creme de Mandioquinha com Gorgonzola e Creme de Brócolis,  ( até acreditamos que tenha sido feito por ela ....rs ), servidos no pão italiano.
Tudo isso regado a um bom vinho e muita conversa boa.
Levei uma sobremesa que as irmãs adoram e vou compartilhar com vocês. Espero que gostem, depois postaremos as receitinhas dos cremes da irmã Clotilde.




Delicia de Abacaxi
Ingredientes:
2 abacaxis pequenos não muito maduros ( picados em cubinhos )
200g de manteiga sem sal
2 latas de creme de leite gelado e sem soro
2 xícaras de açúcar peneirado
200g de biscoito champanhe triturado ( farofa )
Modo de Fazer
Coloque o abacaxi picado em uma peneira polvilhado com um pouquinho de açúcar. Deixe escorrendo por aproximadamente 6h ( faça a noite e utilize no dia seguinte ).
Bata na batedeira a manteiga com açúcar até formar um creme claro ( 7 minutos ), acrescente o creme  de leite e bata por mais 5 minutos.
Arrume o abacaxi escorrido em uma tigela retangular grande, coloque o creme por cima e polvilhe com o biscoito triturado. Leve  a geladeira por 1h e sirva gelado.

Beijos da Irmã Aurora

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Onde está o feminino?


 Dizem que as mulheres, na atualidade, tem muitas opções de ser.  Os movimentos feministas,  entre outras conquistas, trouxeram a possibilidade de que as mulheres tivessem maior participação nos espaços onde o poder é legitimado.  A participação das mulheres no mercado de trabalho criou novas formas de ser mulher, especialmente no cotidiano das cidades.  No entanto, os saberes vinculados aos movimentos feministas geralmente criticam estudos que apontam efeitos negativos para a sociedade desta “saída de casa” das mulheres.  Criticam com razão: afinal, se o espaço da casa tem que ser cuidado, porque é a mulher que tem que fazê-lo, já que é sabido que este destino que lhe foi imposto por muitos anos não tem nada de natural?
Contudo, parece que hoje, tanto mulheres quanto homens, dão pouco peso a estes efeitos negativos e desvalorizam este espaço, a casa.  A casa, este lugar de repouso, onde a vida privada acontecia, ele pode diminuir inclusive de tamanho, já que passamos tão pouco tempo nele.  Somente os ricos, e destes os que ainda conservam aquele valor antigo de `quanto maior a propriedade maior a riqueza´, somente estes ainda desejam casas amplas.  As casas tem valor financeiro mais pelo bairro onde estão do que pelo tamanho.  Se você tem uma casa grande, aparece um logo que diz: ´ah, é porque é no bairro,tal, tá explicado...´.  Os pós-modernos sabem que uma casa grande é um peso, desnecessário, preferindo ter a possibilidade de circular, de se mudar, especialmente se o bairro deixar de ser “ bem freqüentado”.
A casa pequena abriga a família pequena.  Afinal, para que ter espaço para tios, avós, irmãos e primos, se eles não o visitam, pois não tem tempo e não querem incomodar. Para que ter muitos quartos, sala grandes se só é possível ter um filho, e quando se pode ter, depois dos quarenta?  Para que ficar em casa, já que viver é estar no trabalho, na escola e lazer é viajar ou ir ao shopping?
A mulher não deve, não precisa mais ficar em casa.  Ela deve produzir e consumir, mesmos direitos e mesmos deveres.
Há pouco tempo, vi um desenho animado cujo título “Marte precisa de mães”, me fez pedir a minha filha que o víssemos, dizendo a ela: “-Preciso ver este filme porque acho que vou para marte, pois lá precisam de mães”.   Na história, marcianas, não sabendo educar suas filhas meninas, raptavam terráqueas que o soubessem, já que, tendo extirpado os marcianos machos de sua sociedade, mantinham a rigidez e a ordem como valores.  Os machos eram sentimentais, bobões, pouco racionais.  Só que para tirar a sabedoria das terráqueas matavam-nas no processo.  Vi que meu lugar também não era em marte.
Estudei psicologia, carreira em que a mulher pode conciliar carreira e família, quando não deseja ser executiva, o que também é possível para uma psicóloga.  Queria ser uma mulher maravilha, como tantas, mas uma que ainda não fosse pós-moderna o suficiente para entregar meus filhos a uma creche em tempo integral.  Porque não?  Será que nas creches não serão mais independentes e racionalmente cuidados, podendo estar com outras crianças já que não podem ter irmãos ou já que não temos tempo ou oportunidade de criá-los junto aos vizinhos, brincando na rua?  Não foi falta de feminismo, nem de vontade de ter dinheiro, nem de ser algo interessante, importante.  O problema é que eu, além de mãe, queria cuidar das pessoas e não sei por que cargas dágua, no inicio de minha formação, comecei a acreditar que as pessoas que mais precisavam eram as que tinham menos dinheiro.  Dei valor aos saberes que podiam me ajudar a fazer isto, saberes que hoje em dia, assim como as casas, tem pouco valor e trazem pouco dinheiro.  Meu trabalho, no entanto me ajudou a criar minha filha junto a um marciano mais sensato. 
Como uma velha, valorizei coisas que limitaram minhas opções.  Agora que minha filha cresce, o que me resta se não me reinventar e ser mulher 100% trabalho, já que isto é o que o mundo quer de mim? 
Nem homens nem mulheres, agora, podem optar estar fora deste mundo, o mundo do trabalho,  sem ócio, sem casa.  Será que temos realmente muitas opções de ser na atualidade?

 Irmã Teodora, Novembro 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

New York


Nova York
Ir a Nova York é ter a sensação de experimentar, realmente, o estilo de vida metropolitano e deslumbrar-se com a exuberante arquitetura e efervescência da cidade.
Nova York, acredito, retrata como nenhuma outra cidade uma enorme capacidade de superação e de transformação. Ela é o centro da comunicação internacional, como diz Marshall Berman, um espetáculo cuja audiência é o mundo inteiro, um modo de demonstrar o que os homens  modernos podem realizar e como a existência moderna pode ser imaginada e vivida.
Procurei ver Nova York com os olhos de Berman ao me deparar com o imenso canteiro de obras na região do World Trade Center, marcada pela tragédia de 11 de setembro. Ao descrever a aventura da modernidade, tendo como tema central a expressão tudo o que é sólido desmancha no ar Berman não poderia imaginar que essa tragédia iria acontecer, sua obra é de 1982. Entretanto, o que ele relata sobre a capacidade dinâmica de superação e transformação dessa vida moderna nova iorquina no campo da economia e da cultura pode ser sentida clara e concretamente. É uma sensação única estar ali, lembrar-se do trágico e admirar-se com o processo de reconstrução, não só do espaço físico, mas principalmente, com essa criatividade transgressora de seguir adiante, criar-se de outra forma.






Nova York é surpreendente, não só pelo caos, e efervescência de seu centro nervoso, mas também pelo seu oposto, o Village, onde optamos por nos hospedar e o SoHo, com sua arquitetura antiga, cafés, restaurantes, lojas charmosíssimas, galerias de arte e a calmaria de um lugar onde dá vontade de morar.
O Village, como o SoHo, conserva uma aura do modernismo do século XIX, com suas construções horizontais, muitas em tijolos aparentes, fazendo um contraponto com o vibrante, frenético e caótico centro nervoso do mundo com seus arranha - céus super modernos.
Estar hospedada nessa região calma me permitiu – repito - olhar a cidade com os olhos de Berman. Viver a experiência de atravessar a cidade todos os dias, usando o metrô, ou caminhando. Sair da beleza bucólica e aparentemente simples que convida a permanência, a fazer parte daquele meio cultural urbano, belo e acolhedor e penetrar no caos assustador e deslumbrante com seus edifícios imensos cuja audaciosa arquitetura mexe com as pessoas, levando-as ao consumo e a refletir sobre espaço e tempo.
 Viajar é para mim um convite aos olhos, a imaginação e a degustação. Nossas noites foram reservadas para curtir bons restaurantes, de inspiração americana, como o Red Cat  e o The Little Owl; de cozinha francesa como o Jo Jo, o La Sirène e o Ai Fiore ou de frutos do mar como o Lure Fishbar, jantares maravilhosos, sempre regados a bons vinhos.   

Charles Baudelaire dizia que arte é criar uma magia sugestiva que contém ao mesmo tempo o objeto e o sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista. É esse sentimento que me arrebata ao me sentir nessa paisagem. O que me encanta e me faz refletir, o que me contagia e me transforma.
Irmã Miranda
Outubro de 2011